quarta-feira, 27 de maio de 2009

Grande Pátria Desimportante, Eu Não Vou Te Trair!


Ser brasileiro é mais que uma benção. É um dom. Chega a ser um carma.
Estou tendo a oportunidade de refletir sobre isso e desabafo: é incrível como nos deixamos contagiar pelo jeitinho brasileiro.
O Brasil só não é democrático em suas políticas públicas, infelizmente. Aqui tem lugar para todas as tribos, guetos, parcerias e combinados. Os braços do Brasil são os maiores do mundo. Temos belezas naturais, como a mulher-melancia e os laranjas que atravessam clandestinamente a Ponte da Amizade todos os dias. Temos o Cinema Novo, a Pornochanchada, o samba de raíz e o de gafieira. Temos ainda o bom ritmo do funk com suas desprezíveis letras, e as belíssimas composições da MPB em pobres remixagens. O Brasil é um país onde o ilícito se tornou natural e tolerado e os sorrisos das nossas crianças estão forçados e reprimidos. O luxo e o lixo se confundem e se resignificam o tempo todo.
É um país de contrastes: da seca do Nordeste e das cheias no sul. Aboliu a escravatura em 1888 e hoje continua escravizando através da educação, que deveria ser libertadora. Tem praia, tem mato. Tem terra, tem asfalto. Tem sem-terra. Tem circo, tem palhaço. Tem picadeiro. Tem povo. Tem espetáculo!
Mas ainda é o jeitinho brasileiro que mais me incomoda aqui. É um jeitinho de ser solidário em enchentes e que depois desrespeita o idoso na fila dobanco, no ônibus, no restaurante... Precisa de lei. De decreto para ser educado. É o jeitinho que samba junto nos quatro dias de carnaval e que depois não devolve um troco que veio errado, e quando alguém devolve o troco errado, a expressão de espanto do caixa com tamanha 'HONESTIDADE' é inevitável. É o grito unido e uníssono nas arquibancadas e torcidas organizadas e a pancadaria desordenada na guerra dos estádios.
É o país da coca, da cola, do açaí, do avião, da Skol, das favelas e das coberturas. É o Brasil coberto de favelas e descoberto de esperança. No país do Tente Outra Vez não existe guerra mas existe fome. Não existe terremoto mas a terra treme a cada final de campeonato. Não existem vulcões mas o coração do brasileiro desperta sempre em erupção. Não tem Pessoa, mas tem Bandeira. Tem várias bandeiras: brancas, negras, vermelhas e coloridas. Tem Ordem mas não tem Progresso. Tem esquecimento, tem perdão. E como brasileira legítima que sou, me esqueço do Brasil que não conheço, tenho vergonha e não desisto nunca. No país onde o atraso é um charme, não haveria surpresa alguma se fosse um gringo que tivesse me alertado para isso...

(...)
Mas, se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.
Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!

5 comentários:

Gabriel de Carvalho disse...

"Mas, se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.
Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!"

Gostei!

Marcos Vinicius Gomes disse...

As cidade brasileiras estão se tornando cada vez mais úteros maternos - ou madrastais - durante uma crise de endometriose social...

Jeferson Cardoso disse...

"Brasil, pra mim..."
Jefhcardoso do http://jefhcardoso.blogspot.com

Lucy disse...

Brasil
Mostra tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim .

Gostei muito do blog.

taio disse...

excelente post